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O Espírito Santo protagonista da Missão


Leia o a primeira parte do capitulo da Encíclica Redemptoris Missio, do Papa João Paulo II, que trata do Espírito Santo como fundamento de todo missionário.

21. “No ápice da missão messiânica de Jesus, o Espírito Santo aparece-nos, no mistério pascal, em toda a Sua subjetividade divina, como Aquele que deve continuar agora a obra salvífica, radicada no sacrifício da cruz. Esta obra, sem dúvida, foi confiada aos homens: Aos Apóstolos e à Igreja. No entanto, nestes homens e por meio deles, o Espírito Santo permanece o sujeito protagonista transcendente da realização dessa obra, no espírito do homem e na história do mundo.”

Verdadeiramente o Espírito Santo é o protagonista de toda a missão eclesial: a Sua obra brilha esplendorosamente na missão ad gentes, como se vê na Igreja primitiva pela conversão de Cornélio (cf. At 10), pelas decisões acerca dos problemas surgidos (cf. At 15), e pela escolha dos territórios e povos (cf. At 16, 6s). O Espírito Santo age através dos Apóstolos, mas, ao mesmo tempo, opera nos ouvintes: “Pela Sua ação a Boa Nova ganha corpo nas consciências e nos corações humanos, expandindo-se na história. Em tudo isto, é o Espírito Santo que dá a vida”.

O envio “até aos confins da terra” (At 1, 8)

22. Todos os evangelistas, ao narrarem o encontro de Cristo Ressuscitado com os Apóstolos, concluem com o mandato missionário: “Foi-Me dado todo o poder no céu e na terra Ide, pois, ensinai todas as nações (...) Eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo” (Mt 28, 18-20; cf. Mc 16, 15-18; Lc 24, 46-49; Jo 20, 21-23).

Esta missão é envio no Espírito, como se vê claramente no texto de S. João: Cristo envia os Seus, ao mundo, como o Pai O enviou a Ele; e, para isso, concede-lhes o Espírito. Lucas põe em estreita relação o testemunho que os Apóstolos deverão prestar de Cristo com a ação do Espírito, que os capacitará para cumprir o mandato recebido.

23. As várias formas do “mandato missionário” contêm pontos em comum, mas também acentuações próprias de cada evangelista; dois elementos, de fato, encontram- se em todas as versões. Antes de mais, a dimensão universal da tarefa confiada aos Apóstolos: "todas as nações" (Mt 28, 19); "pelo mundo inteiro, a toda a criatura" (Mc 16, 15); "todos os povos" (Lc 24, 47); "até aos confins do mundo" (At 1, 8). Em segundo lugar, a garantia, dada pelo Senhor, de que, nesta tarefa, não ficarão sozinhos, mas receberão a força e os meios para desenvolver a sua missão; estes são a presença e a potência do Espírito e a assistência de Jesus: "eles, partindo, foram pregar por toda a parte, e o Senhor cooperava com eles" (Mc 16, 20).

Quanto às diferenças de acentuação no mandato, Marcos apresenta a missão como proclamação ou querigma: "anunciai o Evangelho" (Mc 16, 15). O seu evangelho tem como objetivo levar o leitor a repetir a confissão de Pedro: "Tu és o Cristo" (Mc 8, 29) e a dizer como o centurião romano diante de Jesus morto na cruz: "verdadeiramente este Homem era o Filho de Deus" (Mc 15, 39). Em Mateus, o acento missionário situa-se na fundação da Igreja e no seu ensinamento (cf. Mt 28, 19-20; 16, 18); nele, o mandato evidencia a proclamação do Evangelho, mas enquanto deve ser completada por uma específica catequese de ordem eclesial e sacramental. Em Lucas, a missão é apresentada como um testemunho (cf. Lc 24, 48; At 1, 8), principalmente da ressurreição (At 1, 22); o missionário é convidado a crer na potência transformadora do Evangelho e a anunciar a conversão ao amor e à misericórdia de Deus — que Lucas ilustra muito bem —, a experiência de uma libertação integral até a raiz de todo o mal, o pecado.

João é o único que fala explicitamente de "mandato" — palavra equivalente a "missão" — e une diretamente a missão confiada por Jesus aos seus discípulos, com aquela que Ele mesmo recebeu do Pai: "assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós" (Jo 20, 21). Jesus, dirigindo-se ao Pai, diz: "assim como Tu Me enviaste ao mundo, também Eu os envio ao mundo" (Jo 17, 18). Todo o sentido missionário do Evangelho de S. João se pode encontrar na "Oração Sacerdotal": a vida eterna é "que Te conheçam a Ti, único Deus Verdadeiro, e a Jesus Cristo, a Quem enviaste" (Jo 17, 3). O fim último da missão é fazer participar na comunhão que existe entre o Pai e o Filho: os discípulos devem viver a unidade entre si, permanecendo no Pai e no Filho, para que o mundo conheça e creia (cf. Jo 17, 21.23). Trata-se de um texto de grande alcance missionário, fazendo-nos entender que somos missionários sobretudo por aquilo que se é, como Igreja que vive profundamente a unidade no amor, e não tanto por aquilo que se diz ou faz.

Portanto os quatro Evangelhos, na unidade fundamental de mesma missão, manifestam todavia um pluralismo, que reflete as diversas experiências e situações das primeiras comunidades cristãs. Também esse pluralismo é fruto do impulso dinâmico do Espírito, convidando a prestar atenção aos vários carismas missionários e às múltiplas condições ambientais e humanas. No entanto, todos os evangelistas sublinham que a missão dos discípulos é colaboração com a de Cristo: "Eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo" (Mt 28, 20). Assim a missão não se baseia na capacidade humana, mas na força de Cristo ressuscitado.

O Espírito guia a missão

24. A missão da Igreja, tal como a de Jesus, é obra de Deus, ou, usando uma expressão frequente em S. Lucas, é obra do Espírito Santo. Depois da ressurreição e ascensão de Jesus, os Apóstolos viveram uma intensa experiência que os transformou: o Pentecostes. A vinda do Espírito Santo fez deles testemunhas e profetas (cf. At 1, 8; 2, 17-18), infundindo uma serena audácia, que os leva a transmitir aos outros a sua experiência de Jesus e a esperança que os anima. O Espírito deu-lhes a capacidade de testemunhar Jesus "sem medo".

Quando os evangelizadores saem de Jerusalém, o Espírito assume ainda mais a função de "guia" na escolha tanto das pessoas como dos itinerários da missão. A Sua ação manifesta-se especialmente no impulso dado à missão que, de fato, se estende, segundo as palavras de Cristo, desde Jerusalém, por toda a Judéia e Sumária, e vai até aos confins do mundo.

Os Atos dos Apóstolos referem seis "discursos missionários", em miniatura, que foram dirigidos aos judeus, nos primórdios da Igreja (cf. At 2, 22-39; 3, 12-26; 4, 9-12; 5, 29-32; 10, 34-43; 13, 16-41). Estes discursos-modelo, pronunciados por Pedro e por Paulo, anunciam Jesus, convidam a "converter-se", isto é, a acolher Jesus na fé e a deixar-se transformar n'Ele, pelo Espírito.

Paulo e Barnabé são impelidos pelo Espírito para a missão entre os pagãos (cf. At 13, 46-48), mesmo no meio de tensões e problemas. Como devem viver os pagãos convertidos, a sua fé em Jesus? Ficam eles vinculados à tradição do judaísmo e à lei da circuncisão? No primeiro Concílio, que reúne em Jerusalém, à volta dos Apóstolos, os membros das diversas Igrejas, é tomada uma decisão considerada como emanada do Espírito Santo: não é necessário que o pagão se submeta à lei judaica para ser cristão (cf. At 15, 5-11.28) A partir desse momento, a Igreja abre as suas portas e torna-se a casa onde todos podem entrar e sentir-se à vontade, conservando as próprias tradições e cultura, desde que não estejam em contraste com o Evangelho.

25. Os missionários, seguindo esta linha de ação, tiveram presente os anseios e as esperanças, as aflições e os sofrimentos, a cultura do povo, para lhe anunciar a salvação em Cristo. Os discursos de Listra e de Atenas (cf. At 14, 15-17; 17, 22-31) são considerados modelo para a evangelização dos pagãos: neles, Paulo "dialoga" com os valores culturais e religiosos dos diferentes povos. Aos habitantes da Licaónia, que praticavam uma religião cósmica, Paulo lembra experiências religiosas que se referiam ao cosmos; com os Gregos, discute sobre filosofia e cita os seus poetas (cf. At 17, 18.26-28). O Deus que vem revelar, já está presente nas suas vidas: de fato, foi Ele Quem os criou, e é Ele que misteriosamente conduz os povos e a história; no entanto, para reconhecerem o verdadeiro Deus, é necessário que abandonem os falsos deuses que eles próprios fabricaram, e se abram Àquele que Deus enviou para iluminar a sua ignorância e satisfazer os anseios dos seus corações (cf. At 17, 27-30). São discursos que oferecem exemplos de inculturação do Evangelho.

Sob o impulso do Espírito, a fé cristã abre-se decididamente às nações pagãs, e o testemunho de Cristo expande-se em direção aos centros mais importantes do Mediterrâneo oriental, para chegar depois a Roma e ao extremo ocidente. É o Espírito que impele a ir sempre mais além, não só em sentido geográfico, mas também ultrapassando barreiras étnicas e religiosas, até se chegar a uma missão verdadeiramente universal.

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Para saber mais, estude na íntegra a Encíclica Redemptoris Missio, no site do Vaticano.

FONTE: http://www.rccbrasil.org.br/artigo.php?artigo=776